1. O que determina o meu voto no
próximo domingo, 4 de Outubro, é poder contribuir para a obtenção de resultados
eleitorais tendo em vista alcançar nomeadamente os seguintes objectivos políticos
estratégicos:
- Desde logo e à cabeça a rejeição inequívoca da actual política de austeridade expressa através de uma maioria clara de votos – e de mandatos parlamentares – á esquerda, com a consequente derrota da coligação de direita no poder;
- Complementarmente, impedir a obtenção de qualquer maioria absoluta por um só partido, a fim de se prevenirem tentações e desmandos (gato escaldado…);
- Por último, reforçar a representação parlamentar de Bloco e CDU por forma a pressionar o PS a uma política de esquerda (aguardando-se que a proliferação de siglas não interfira muito nesse propósito).
A dar crédito às sondagens que
diariamente procuram entorpecer a opinião dos portugueses, a probabilidade
destes três quesitos principais virem a concretizar-se é bastante forte – não
obstante a negra contrapartida de todas elas destacarem uma previsível vitória,
ainda que sem maioria, da direita no poder. Os resultados de domingo encarregar-se-ão, pois e antes de mais, de confirmar o grau de credibilidade deste tipo de sondagens – ou até que
ponto, como tem acontecido noutras paragens, são manipuladas com o propósito de
influenciar as intenções de voto dos eleitores.
Facto não despiciendo, neste
contexto, o revigoramento do Bloco para além de todas as expectativas,
despeitadamente dado já por múltiplos sectores (da direita à esquerda, diga-se)
em adiantado estado de decomposição, a caminho da extinção, tornando-se já
quase um lugar-comum atribuir tal efeito à acção determinada, competente e serena
de Catarina Martins. Sem menosprezo pelo contributo devido a elementos cuja
empenhada prestação política mereceu notório reconhecimento público (caso da
Mariana Mortágua). Essencial para segurar um eleitorado que não se revê no PS
nem no PCP, que de outro modo se absteria.
2. Mas o que realmente se encontra
em jogo nestas eleições e espero mesmo que resulte do apuramento eleitoral é a
criação de condições mais favoráveis à concretização a breve prazo de um programa político de mudança que
inclua, como eixos fundamentais:
- A revogação do Tratado Orçamental (TO) – em nome da democracia – e muito para além de quaisquer pretensas ‘leituras inteligentes’ que alguns queiram dele extrair;
- A reestruturação da dívida – em nome da soberania do País e da vida de quantos nele habitam e trabalham;
- O controlo público do sistema financeiro – em nome da decência, contra a corrupção institucionalizada.
Já (quase) tudo foi dito e
escrito sobre cada um dos temas enunciados. Do inviável TO, à inevitável
reestruturação da dívida (data a marcar após as eleições em Portugal e
Espanha). Não menos falado, talvez menos exigido (pela consciência da sua
impossibilidade imediata face à envolvente política actual?), o controlo público do sistema financeiro
assume papel nevrálgico num processo de transformação social. Daí tornar-se
indispensável incluí-lo num programa político que vise alterar a insustentável
situação que decorre do periódico (e aparentemente imperioso) resgate de Bancos
a que a sociedade se vê compelida. E é bom relembrar, pela enésima vez, que a
crise actual teve origem precisamente no descalabro financeiro de 2008 e que,
de então para cá, a par desses impostos resgates, pouco ou nada foi feito em
termos da instauração de novas regras que prevenissem a repetição sistemática deste
ignóbil regabofe bancário. Aliás, se nada for entretanto feito (e nada aponta
nesse sentido), o pior poderá estar ainda para vir!
O actual ‘escândalo Volkswagen’
ilustra bem, por contraponto, a importância
sistémica do sector financeiro. Apesar da gigantesca dimensão do construtor
alemão (a nível financeiro, VN ou emprego), imensamente superior à da maioria dos
Bancos e ainda sem uma clara avaliação do seu real impacto na economia global,
uma coisa parece, para já, adquirida: os danos causados pela comprovada fraude
das emissões poluentes (por razões de concorrência, como sempre!) estão longe
de provocar as ondas de choque sentidas em 2008, no auge da crise financeira,
com a situação de descalabro então registada em algumas Instituições Bancárias (difícil
de divisar onde a ‘criatividade’ permitida pela desregulação financeira dá
lugar à fraude). Tal como já afirmei antes ‘cresce a percepção,
até entre sectores liberais, de que a solução já só reside no controlo público do sector bancário: é
que os bancos, pelo papel vital que detêm na sociedade, não devem ser deixados
ao capricho de particulares!’.
3. Por fim e perante a devastação a que a actual política de austeridade
sujeitou o País parece quase masoquismo o resultado para que tendem as
sondagens: uma vitória da coligação da direita – os responsáveis pela ruína de
tantas vidas e destruição imensa de recursos, sem visíveis contrapartidas – ainda
que sem maioria! Não sendo de admitir que, depois de tamanha predação, subsista
um tão elevado número de beneficiados (ou até só ilesos) pela política de
austeridade, custa imaginar quão profunda terá sido a acção psicológica baseada
no medo e suportada na manipulação de dados (sabê-lo-emos depois das eleições?)
a que foram sujeitos quem lhes sofreu tais efeitos, a ponto de agora absolverem
os seus carrascos. Uma nesga de coragem contra o medo ou uma réstia de bom
senso ainda é, contudo, possível!
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