Cresce a convicção, à medida que os factos assim o vão
impondo, que a manutenção no Euro se torna cada dia mais insustentável. Como é óbvio, não é possível
ignorar as consequências de uma tal ocorrência se (ou quando) vier a acontecer:
a regressão económica e social será devastadora a nível interno; já a nível
externo os efeitos são imprevisíveis e ameaçam pôr em causa a própria
continuidade da UE. Mas permitirá, desfeitos os laços de uma união disforme e pretexto
para acentuar os mecanismos da exploração capitalista – a coberto da
‘legalizada’ Selva dos Mercados! – partir-se de uma nova base, mais
autónoma e democrática. Sobretudo melhor preparada e mais imune a pretextos e
chantagens políticas externas.
O desconcertante rodopiar aparentemente sem nexo nem
controle dos ministros deste governo, desdobrando-se em declarações
contraditórias (à mistura com cínicos avisos bastas vezes formulados para o não
fazerem!), pode bem obedecer a um propósito que começa a ganhar sentido. Por
trás dessa confusa balbúrdia de cada Ministro parecer falar desgarrado,
percebe-se cada vez mais a estratégia do Governo sobre o eventual pedido
de um 2º resgate (ou da sua versão mais suave de um indefinido programa
cautelar): perante a sua inevitabilidade – sobretudo perante o inevitável
fracasso da política adoptada – torna-se imperioso fazer passar para a
opinião pública a ideia de tudo isto não ser da sua responsabilidade. Essa estratégia
vem-se desenvolvendo em três frentes principais:
1. Por
um lado, multiplicam-se as declarações públicas sobre o mirífico significado
dos (poucos) indicadores económicos positivos e da épica saída da recessão
técnica, pelo que a ‘retoma da economia’ é tida, praticamente, como um dado adquirido (praticamente
e não realmente, como se verá a seguir, no ponto 3.);
2. Ao
mesmo tempo vão-se deixando cair ameaças de um ‘2º resgate’, por
regra (vá-se lá saber porquê), em declarações proferidas fora do País!:
primeiro Pires de Lima em Londres, depois Machete na Índia,... logo
convenientemente desmentidas para que o efeito pretendido não se cole aos seus
autores (e ao Governo), dure apenas o tempo de um aviso para uso futuro;
3. Por
último, aposta no chumbo do TC como bode expiatório para, eximindo-se
das suas responsabilidades próprias pela política de destruição do País, poder
concluir-se que as medidas chumbadas eram essenciais para sustentar essa pretensa
retoma da economia, pelo que será ‘apenas’ a sua exclusão que obrigará o
País ao 2º resgate – tal como eles, afinal, tinham avisado!
Há muito se percebeu – e tantos o
têm vindo a afirmar, desde o início do programa da troika! – que só uma reestruturação
profunda da dívida pode permitir a sua (longa mas efectiva) resolução.
Reestruturação necessariamente a nível de taxas, prazos e condições
de pagamento – mas cada vez mais também a nível de montantes, em
especial os derivados da acumulação de juros especulativos. Pois um simples cálculo
aritmético evidencia que, ao nível actual da Dívida Pública (cerca de 130% do
PIB) e no enquadramento comunitário vigente, só um
crescimento anual do produto dois ou três pontos acima das taxas que a oneram
tornará viável o pagamento do respectivo ‘serviço da dívida’ – ainda
assim desde que conjugado com um longo período de amortização e carência de
capital nos primeiros anos! O que é manifestamente inalcançável!
Isso mesmo se deduz das
declarações de um dos principais fautores desta política, o Secretário Moedas,
quando terá afirmado – antes de ser Governo – que a dívida acima dos 70% do PIB
(!!!) exigia ser renegociada. Mas logo que meteu a mão no pote, esta
privilegiada ‘amiba’ do conjunto de invertebrados protozoários que, pela fraude
e a mentira, abocanhou o poder político – ora dizem uma coisa e fazem outra,
ora se escudam em razões alheias ou pretextam algo para iludir causas próprias,
zelosamente focados em, custe o que custar, retornarem à Lei da Selva... dos
mercados – tratou de alterar a sua posição e, fiel serventuário do capital
sem pátria, afadigou-se na rápida (e rapace!) transferência de recursos em
benefício exclusivo deste. Propósito convenientemente oculto sob a punitiva
alegação (leia-se, pretexto) de ‘termos vivido acima das nossas
possibilidades’. A justificar, pois, o insidioso programa de austeridade
sob pretexto, como sempre, de imposição externa.
Agora, perante a destruição do País provocada pelas políticas desta
cáfila criminosa, resta-lhes tentar sair airosamente do embaraço que constitui
o sucessivo fracasso das metas prometidas e nunca atingidas. É o que se
preparam para fazer: o provável chumbo do TC a algumas das medidas do OE/2014
permitir-lhes-á o pretexto para novo aumento (directo) de impostos –
já que, a avaliar por tais peças, não será plausível a opção, por vezes referida, de
aproveitarem para abandonar o Governo (num já clássico ‘agarrem-me senão eu
fujo!’). Do Governo hão-de sair, claro, mas escorraçados!
A história deste Governo resume-se, toda ela, a um longo rol de pretextos. A história, afinal, de uma premeditada estratégia visando a recomposição estrutural da sociedade portuguesa – o reforço das suas elites financistas à custa da transferência de recursos das classes mais frágeis, o poder dos mercados em lugar do dinamismo da democracia – a pretexto do pagamento de uma dívida fortemente ‘inflacionada’ pela especulação financeira e por financiamento comunitário com regras armadilhadas. Tudo com o conveniente aval de uma troika externa sobre quem se pretende fazer recair toda a responsabilidade pela destruição do País a que conduziu esta política de desastre anunciado!
A história deste Governo resume-se, toda ela, a um longo rol de pretextos. A história, afinal, de uma premeditada estratégia visando a recomposição estrutural da sociedade portuguesa – o reforço das suas elites financistas à custa da transferência de recursos das classes mais frágeis, o poder dos mercados em lugar do dinamismo da democracia – a pretexto do pagamento de uma dívida fortemente ‘inflacionada’ pela especulação financeira e por financiamento comunitário com regras armadilhadas. Tudo com o conveniente aval de uma troika externa sobre quem se pretende fazer recair toda a responsabilidade pela destruição do País a que conduziu esta política de desastre anunciado!
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