A sra. Merkel, diz Passos e o seu (des)governo, faz parte
daquele ‘grupo de amigos’ que, reunidos na troika, 'ajuda' Portugal no âmbito do
designado ‘memorando de entendimento (!)’. A sra. Merkel é, pois, na opinião
deles, ‘amiga’ de Portugal. A sra. Merkel, ‘amiga’ de Portugal ( na opinião
deles, claro), deslocou-se esta segunda-feira, 12 de Novembro, ao País de que
se diz, presumo (mas não tenho a certeza), também amiga. Para receber a ‘amiga’
Merkel, contudo, o Governo sentiu necessidade de montar uma das maiores
operações de segurança de que há memória em Portugal.
Eu pensava, antes deste curioso mas bem simbólico
episódio, que os amigos, precisamente porque o são, dispensavam qualquer
protecção, quando muito uma discreta vigilância para prevenir eventuais actos
tresloucados (que podem acontecer sob múltiplos pretextos e em qualquer lugar),
nunca por nunca os enormes meios de segurança postos agora no terreno. Os
amigos, quando o são verdadeiramente, são recebidos em festa e a manifestação
dos afectos são a maior prova da sua segurança.
Dou comigo, confesso que pouco ou
nada versado em questões de segurança, a colocar-me a questão: então se os
amigos são acolhidos com tal aparato de segurança, quando se tratar de receber uma
qualquer outra alta individualidade, porventura menos amiga – a diplomacia, por
vezes, a isso obriga – qual será o nível de segurança que se estabelecerá? As
Forças Armadas em peso, Exército, Armada e Força Aérea, terra, mar e ar em
alerta máximo? É óbvio que não. O que este (des)governo conhece por experiência
própria é o tratamento dado aos falsos amigos. Porque tem sentido na pele o que
é ter-se apresentado nas eleições como ‘amigo’ e rapidamente desmascarado como
falso, trapaceiro, perverso, nefasto. Porque pior que os inimigos, são os
falsos amigos!
E sabe, sobretudo – sente-o
sempre que tenta pôr o nariz de fora – que o povo destrinça bem onde estes se
encontram, não perdendo uma oportunidade de o demonstrar. Por isso este
(des)governo age em conformidade, rodeando-se da máxima cautela e de todas as
seguranças. Nem era necessário o anúncio das diversas manifestações de protesto
anunciadas para hoje para o alertar para o perigo que corre esta ‘sua amiga’, a
quem servilmente se submetem, na expectativa de, através dela, melhor poderem
aplicar as suas políticas de suporte à rede de interesses que representam.
Perfilados, ela e eles, por trás dos enigmáticos homens de negro da troika,
aprestam-se a impor a toda a Europa as regras de conduta mais favoráveis ao
entrincheiramento desses interesses.
Em Merkel, bem ou mal, o povo vê personificada a política de que tem
sido vítima inocente, os malefícios de uma austeridade que se demonstrou
totalmente inútil – pelo menos na perspectiva dos objectivos que explicitamente
visava. Porque, importa afirmá-lo sempre, a austeridade imposta como
contrapartida do dito ‘apoio financeiro’ consubstanciado no famigerado
‘memorando de entendimento’, reduz-se a extorquir recursos do povo trabalhador
e a transferi-los para misteriosos mercados (!), a pretexto de compromissos
assumidos pelo País. A dita ‘ajuda’, afinal, mais não é que a forma encontrada
pelo poder financeiro mundial (europeu em especial) de garantir, com
significativo retorno de juros, a recomposição das suas posições abaladas na
sequência da crise das dívidas, contraídas na maioria das vezes para aquisição
de bens produzidos sob controle desse mesmo poder!
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