Os limites da competição: sequelas e alternativas
A realidade dos factos indica
que, para além de toda a propaganda, mais que qualquer capacidade pessoal
desencadeada ou estimulada pela competição e pelo gosto do risco, o que faz
brotar a iniciativa e a oportunidade de investimento é, pois, a disponibilidade
de capital. É, antes de mais, a dimensão do capital próprio ou alheio
(crédito,...) que condiciona e determina a maior ou menor capacidade de inovar
e empreender nas sociedades capitalistas. Que gera o empreendedorismo, a
nova ‘palavra da salvação’, autêntico avatar liberal para a Crise, não
obstante tratar-se de conceito não isento de ambiguidades! É da quantidade que,
por regra, deriva a qualidade, raramente acontece o contrário – só depois esta
potencia e reproduz nova quantidade/qualidade.
Ora, dado que o aumento da
competitividade se obtém à custa do reforço de meios financeiros, tecnológicos
e humanos, em período de crise as estratégias para o atingir por parte dos
países da periferia (como no caso de Portugal) esbarram, assim, numa dupla
dificuldade: a que se insere na natureza e dinâmica do próprio modelo dual de
desenvolvimento capitalista (dependência dos grandes operadores) e a que
resulta da escassez relativa de capitais por impostas restrições externas
(restrições ao acesso dos recursos financeiros indispensáveis para tal
incremento). A receita clássica é bem conhecida: o esforço suplementar exigido
acaba por incidir exclusivamente sobre os recursos humanos, através da contínua
depreciação da força de trabalho (desvalorização salarial, liberalização
laboral,...), acentuando-se deste modo o clima depressivo da Crise por
consequente atrofia da procura.
Porque, é bom enfatizá-lo, a
competição em excesso também mata. Não só a competição não esgota (e, tão
pouco, só por si o explica) as condições indispensáveis à prossecução da
eficiência, do aumento da produtividade, em suma, do crescimento, como por
vezes pode demonstrar-se contraproducente e até prejudicial a esse objectivo. A
excessiva pressão exercida sobre os recursos, por exemplo, conduz por norma, ao
desgaste prematuro e a uma gestão ruinosa dos mesmos, pondo em risco o futuro
destes e dos que deles dependem. Nesse sentido, o papel da cooperação
no desenvolvimento das sociedades tem vindo a ser destacado como tão importante
ou mais do que a competição.
Alguns dos mais recentes desenvolvimentos da biologia, nomeadamente
através do contributo da simbiose entre espécies diferentes, parecem trazer
novos dados objectivos que concorrem para completar algumas lacunas na teoria
da evolução e ajudam também a compreender melhor as relações sociais. Com
efeito, nas duas últimas décadas reavivou-se o interesse pela investigação do
denominado fenómeno simbiótico, ainda insuficientemente conhecido, até
porque muito pouco divulgado, mas presente em diversas manifestações na
evolução das espécies.
A simbiogénese afirma – e demonstra – que
competição e cooperação, longe de serem processos antagónicos, coexistem na
natureza e actuam em complementariedade. Melhor ainda, ela explica como o
sucesso evolutivo das espécies resulta mais da cooperação do que da competição,
dependendo do momento e do lugar, sem excluir ou desvalorizar, como é óbvio, o
papel da competição no processo de selecção das diferentes estirpes.
A Crise – e as soluções que o poder liberal dominante tem
vindo a desenvolver supostamente para a debelar – geraram ou acentuaram
fenómenos de exclusão tão extremos e absurdos que tem vindo a relançar-se na
sociedade a reflexão sobre as alternativas aos valores prevalecentes da
competição, do individualismo, do efémero (busca de resultados imediatos). Por
oposição, recupera-se o velho ideário (republicano, socialista,...) da solidariedade,
da colaboração, da associação. Nunca é demais repeti-lo: a maior
mistificação actual é fazer crer, por mil maneiras, que o ideário que pôs o
mundo à beira da catástrofe (com a ajuda, diga-se, de ideário dito
socialista!), será o mesmo – ainda mais aprofundado – a tirá-lo do ‘buraco’
onde se encontra!
Na situação actual e nas condições vigentes da estrutura produtiva nacional, a ênfase posta na competição apenas serve para agravar ainda mais a insatisfação social: efeitos depressivos sobre os indivíduos (em período de desemprego elevado), prejuízos acrescidos sobre as empresas (arrastadas para a falência sobretudo pela pressão da concorrência externa).
Na situação actual e nas condições vigentes da estrutura produtiva nacional, a ênfase posta na competição apenas serve para agravar ainda mais a insatisfação social: efeitos depressivos sobre os indivíduos (em período de desemprego elevado), prejuízos acrescidos sobre as empresas (arrastadas para a falência sobretudo pela pressão da concorrência externa).
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