terça-feira, 12 de abril de 2011

Presidente ou Notário?

O ‘argumento’ e desfecho, há muito anunciados, da mais recente fase da interminável saga da crise global em que nos meteram – o pedido formal de resgate à UE/FMI – teve no inusitado ‘apagão’ ocorrido em Belém um dos seus momentos de eleição. Se não o mais relevante, seguramente um dos mais significativos. A merecer, ainda assim, tímidos protestos nas inúmeras referências dos comentadores de serviço – por pudor, conivência ou receio de melindrarem a instituição!

Tanto no auge da crise política que culminou com o anúncio desse pedido de resgate, como já depois na indispensável gestão do que se lhe segue, por várias vezes as atenções se voltaram para Belém na expectativa de uma palavra, de um gesto, de uma orientação. Afinal, aí reside o único poder unipessoal de toda a estrutura administrativa, capaz, em teoria, de congregar esforços e ultrapassar querelas partidárias. Mas ‘o homem do poder’ manteve, sobre todas as expectativas mais optimistas (os realistas já nada esperam!), a pose hirta e ausente de quem paira sobre os problemas. Com direito até a justificações teóricas de tipo institucional para tal atitude por parte dos seus indefectíveis (‘reserva da nação’, dizem!), malgrado o desconforto evidente com que o tentam fazer!

Na avaliação de tão bizarro comportamento não pode deixar de se cotejar a história dos casos similares ocorridos nas anteriores presidências, todas elas confrontadas com situações idênticas (e bem menos gravosas, pelos vistos). Perante impasses políticos de alguma monta, Eanes decidiu avançar com os designados ‘Governos de iniciativa presidencial’ – e foram três! A Soares coube decidir a recusa de uma solução governativa maioritária e avançar para eleições antecipadas – contra a opinião do seu próprio partido! Sampaio, que havia, num primeiro momento, afrontado o seu próprio partido empossando um governo atípico ainda que legítimo – decidiu depois dissolver a Assembleia e provocar novas eleições.

Na que é considerada a maior crise política das últimas décadas, porém – em resultado de uma grave crise económica e social – ‘este’ Presidente da República, aparentemente (e as aparências aqui fundem-se com a realidade) alheou-se da função e das suas circunstâncias, preferiu deixar correr os acontecimentos, ‘jogando’ (?), porventura, na anulação mútua dos dois principais protagonistas e opositores (entre si e contra si – será este o sentido da sua ‘magistratura activa’?). Quando confrontado (e foi-o várias vezes) refugiou-se nos habituais compromissos burocráticos, esteve ausente das decisões que entretanto houve necessidade de serem tomadas, passeou a sua aparente indiferença pelo País e perante as pessoas. Esperar-se-ia, no mínimo, um sinal, um vislumbre de comando, de que alguém tinha a situação sob controle,... Mas dali, decerto, não!

Este episódio, porém, apenas corrobora e se insere na lógica de actuação da personagem. Cavaco mantém-se igual a si próprio, evidencia a mesmíssima postura que teve perante a provocação do impertinente (ou boçal?) presidente checo: apático, sem reacção, sem saber o que fazer, acossado pelo atrevimento do opositor (agora por graves acontecimentos),... Depois da vergonha que foi esse episódio, quem ainda ousa alimentar expectativas sobre o que possa vir a fazer, em momentos de crise e de verdadeiro aperto, o ‘nosso’ recém eleito ‘homem do leme’?

Um Presidente, objecto de escrutínio universal, para intervir apenas nos actos de registo... não passa de uma inutilidade cara!

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