segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

As falsas evidências do senso comum: equívocos ou imposturas? – II

A maior das imposturas!

A segunda falsa evidência gira em torno do decantado papel da produtividade, já por mais de uma vez aqui abordado – mas nunca por demais evidenciado. Porque da comparação estatística com os valores internacionais equiparáveis, os obtidos internamente saem normalmente a perder, logo se pretende extrair como única conclusão que ‘os trabalhadores portugueses ganham acima do que produzem’, pelo que a solução inevitável (!) para garantir a indispensável competitividade externa passa pela ‘desvalorização/redução dos custos (!!!) laborais, das remunerações’.

À parte o ‘pormenor’, bem elucidativo e ainda há pouco tempo evidenciado por Bruto da Costa, de os rendimentos do trabalho serem considerados um ‘custo’ para a empresa – quando os ganhos do capital se traduzem por ‘benefícios’ – o que mais importa aqui realçar agora é a fraude que se acoberta por detrás desta aparente evidência do senso comum: a escassa (ou menor) produtividade resolve-se sobretudo cortando nos referidos ‘custos’ do trabalho, ou seja, reduzindo os salários (sob formas diversas).

Ora, já por aqui o expressei em diversas vezes, as razões da baixa produtividade nacional não radicam num menor esforço do trabalho, mas antes nos obsoletos processos de gestão e organização empregues na esmagadora maioria das empresas portuguesas. Ainda não há muito tempo referi que ‘a causa da baixa produtividade não está em trabalhar mais, mas em trabalhar melhor, não está em despender mais esforço, mas em reproduzir esse esforço de uma forma mais organizada. O problema é, mesmo, ORGANIZAÇÃO’. O que permite afirmar não serem os trabalhadores em geral os principais responsáveis por esse atavismo nacional que nos penaliza na comparação internacional, pois ‘se a ‘culpa’ é da organização – ou da falta dela – então os ‘culpados’ são, em primeira instância, os... gestores e organizadores, todos os que têm de a formular, planear e aplicar, enfim, os decisores em geral (...)’!

Porque só detectando correctamente as causas da menor produtividade evidenciada em parte significativa das actividades nacionais é possível estabelecer as medidas certas para, em cada caso, a aumentar e assim eliminar as diferenças de competitividade que hoje se verificam para os principais parceiros comerciais do País. E que alimenta o discurso dos que pretendem explicar os atrasos no seu desenvolvimento com base no estafado e falso argumento de que ‘o nível de salários dos portugueses está desfasado do da produtividade’, para justificar a redução salarial (ou tentar a sua desvalorização sob diversas formas), pondo-se eles próprios a salvo de qualquer beliscadura nas suas regalias.

Daí ter adiantado, na sequência do então referido, que ‘os principais responsáveis pela tão persistente e vilipendiada baixa produtividade são os mesmos que a invocam como argumento (dá jeito em momentos como este), para extraírem mais umas migalhas aos milhões de pedintes em que o país se vai transformando... presumidamente por falta dela. Porque de um modo geral são eles que têm governado o país, definido e imposto – dela se servindo – esta ORGANIZAÇÂO: tanto no Estado, como nas empresas, a nível da sociedade global!

Não consta que, após a crise ou por força dela, tenha ocorrido alteração significativa ou sequer algum movimento importante nas remunerações dos gestores, públicos ou privados, sobretudo nos sectores de que se reclama padecerem de baixa produtividade e até nas empresas que apresentam prejuízos de milhões. A esmagadora maioria deles continua a usufruir do mesmo nível de regalias que, em boa medida, contribuiu decisivamente para o descalabro financeiro que conduziu à crise!

E que faz de Portugal o País da UE onde são maiores as desigualdades sociais – com tendência para o seu agravamento!

(...)

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