terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nunca como agora... I

Economistas com peito!

De há muito que temos vindo a assistir a uma pantomina em três actos, produzida e montada pelo centro do capitalismo, bem orquestrada e difundida por uma subserviente comunicação social: (1) à imposição da ‘crença’ no misterioso poder dos ‘mercados’, (2) segue-se a obrigação de fazer o que eles mandam, (3) sob pena das mais terríveis pragas e castigos. Processo de mentalização praticamente concluído, já pouca gente o contesta, tão martelados temos sido pelos especialistas e comentadores do costume. A sequela já em curso dita que, para solver as enormes dívidas provocadas pela recente salvação do sistema da sua eminente derrocada e equilibrar as contas públicas, a solução é... mais mercado! Com os inevitáveis cortes no bem estar da maioria.

Nunca como agora se assistiu a tão vergonhosa montagem de uma operação mediática destinada a impor esta monstruosidade, pelo entendimento de se tratar de uma inevitabilidade sem alternativa!!! Papel essencial, neste processo, desempenham os chamados e auto-proclamados economistas de todos os feitios, espécie de alquimistas da era moderna na arte manhosa de transformarem tostões em milhões, ideologia em ciência – com os resultados conhecidos!

Não obstante a responsabilidade objectiva que deve ser assacada aos teóricos do modelo económico liberal/desregulador pela presente crise (pese embora a desonestidade criativa de alguns se afadigue em tentar justificar o contrário), o certo é que, passado o susto inicial e recompostas as abaladas finanças privadas (em especial nos sistemas bancários) à custa dos recursos públicos, o clima político parece cada vez mais de feição à retomada e consolidação do poder que se acoberta por trás da entidade difusa e anónima que todos tratam, reverencialmente, por ‘os mercados’!!! Todos, afinal, vergados ao peso dessa misteriosa alquimia económica, misto de pretensa ciência e de poderes ocultos (tenebrosos e malévolos como convém à alimentação da crendice e subjugação dos ingénuos), bem explorada pelos bonzos e acólitos desta bizarra e tão propagandeada religião!

Estranho deixou de ser a invocação da qualidade de especialistas na matéria com que alguns, em tom de bravata, apostrofam quem se oponha aos seus pontos de vista. E se o exemplo vem mesmo do alto (cultivado pelo ‘economista’ Cavaco, o Presidente, que recorre, amiúde, ao argumento da autoridade na matéria), como estranhar a sua utilização por outros?

Num destes dias, irrompeu pelo écran, ameaçador, o Nogueira Leite – esse mesmo, o ‘medinacarreirista’ conselheiro económico do Coelho do PSD – com ares de pretender fulminar quem se atrevesse a opor-se-lhe, para tanto arrogando-se a sua qualidade de ‘economista’! A invocação do estatuto de especialista na matéria tem o mesmo efeito arrasador que a medieval aspersão da água benta sobre os endemoninhados, exorciza os demónios e apostrofa os hereges. O tom ameaçador não deixa dúvidas sobre a alternativa contida na mensagem: ou fazem o que eu digo, ou vem aí o FMI para vos meter na ordem!

A largura de ombros do personagem demonstra-se de grande monta na hora de fazer peito. Talvez se justifique mesmo um aviso: ‘Eh, pá, cuidado! O Nogueira Leite é economista! E tem peito!

Tem ainda o mérito de trazer à memória tiradas célebres de grande conteúdo programático e precavido escarmento: quem se mete com o PSD, leva!
.....???? Alto aí! Essa é do outro Coelho, o do PS! Enfim, qual a diferença? Ultimamente tão diferentes no discurso, mas sempre tão iguais na prática!
(...)

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