terça-feira, 6 de abril de 2010

‘Incógnito perigo... novos desastres...’ – de novo, os ‘velhos do Restelo’?

Acabado de regressar, deparo logo com a ‘polémica’ (via ‘Ladrões de Bicicletas’). Antes de mais, peço desculpa pela falta de originalidade do título, pois de tão óbvio, merecia pelo menos o esforço de um outro mais actual a condizer. Mas por mais voltas que dê, o retorno à velha e gasta alegoria oferece-se irrecusável, pois parece talhada para este caso: o ‘choradinho’ que o motiva – vertido em forma de "Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal", ou ‘Manifesto dos 33’ – tem um objectivo manhoso e é preciso estar atento (como já evidenciado por outros comentários sobre o assunto). De um lado o incansável ‘lobby’ nuclear, do outro o novo e fogoso líder do PSD. É demasiada coincidência para ser apenas isso, uma coincidência.

Além disso, a alusão aos ‘velhos do Restelo’ tem ainda a vantagem de estabelecer o paralelo com os ‘Descobrimentos’ – operação imensamente acima dos recursos do país e, não obstante, fez-se e com sucesso! Correspondeu até, apesar de todos os ‘velhos do Restelo’ (lá está!), ao período mais influente da nossa História (com todos os excessos cometidos, mesmo quando vistos à luz da época).

Numa altura em que se acentua a necessidade de se equacionarem alternativas estáveis às energias fósseispor razões do esgotamento dos recursos e por preocupações com o ambiente – a única ideia consistente deste manifesto (mais um) é a de que a política de apoio às renováveis é ‘uma aberração económica’, pois a aposta nestas é... cara (e, acrescentam, ‘suportada pelo consumidor’, com isso procurando demagogicamente colher o apoio de todos os pagantes). Restará então, por exclusão de partes, a energia nuclear – coisa que os ‘33’, nesta fase, ainda não se atrevem a explicitar, muito menos a propor. Que, no ponto da tecnologia actual, não responde nem a um nem a outro daqueles dois problemas, uma vez que se firma em recursos escassos não renováveis e arrasta riscos ambientais porventura ainda mais sérios de resolver a longo prazo (para além de toda a propaganda em contrário).

Tudo isto porque o tempo dos grandes projectos energéticos, daqueles que podem gerar muiiiiiito dinheiro, está a esgotar-se. As tendências actuais apontam na direcção da microgeração, tão micro quanto o pode ser o consumidor final, sejam os indivíduos ou as empresas – a tecnologia não está longe de o conseguir (até com participação de investigadores portugueses, por exemplo da U. Nova de Lisboa). Se estas tendências não forem travadas por interesses particulares (que, note-se, tudo farão para não perderem esta importante fonte de receitas), o consumidor tenderá a transformar-se no seu próprio produtor, num prazo que se espera então não muito longínquo (no início tudo dependerá dos apoios oficiais, é aqui que bate o ponto). Ainda que o não seja para ‘amanhã’, há que começar a criar as condições para o tornar possível. A recente agitação que sacudiu o sector teve o mérito, por entre os inúmeros alertas emitidos, de despertar um reforçado surto tecnológico na área da energia.

E é por verem essa oportunidade a esvair-se à medida que o tempo passa que agora ensaiam este pífio mas agoirento grito de alma contra a ‘política das energias renováveis’. Repare-se que eles não se atrevem a pôr em causa a ‘utilidade’ das energias renováveis. Por agora apenas arriscam contestar a política seguida para as incentivar, com base nos desgastados argumentos da ‘eficiência económica’a mesma eficiência que pôs o planeta à beira da catástrofe ambiental, o mesmo quadro de referências que colocou o mundo próximo do colapso financeiro (o ‘grupo nuclear’ – não resisto ao trocadilho fácil – destes ‘33’ é, não por acaso, bem conhecido doutras andanças)!

Por estas alturas é fácil ‘bater’ no Governo e nas suas políticas. E até nem seria difícil encontrar pontos criticáveis na actual política energética (do plano de barragens, aos próprios incentivos criados para a microgeração). Mas ao ‘exigirem uma avaliação técnica e económica, independente e credível, da política energética nacional, de forma a ter em conta todas as alternativas energéticas actualmente disponíveis’, estes ‘33’ indefectíveis manifestantes apontam, afinal, em que sentido?

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