sexta-feira, 19 de junho de 2009

Salvador da Costa ou, o Pinto no ovo do dragão

Nos últimos dias e a nível doméstico – para além do interminável caso BPN e do frisson político gerado em torno da putativa “ignorância” do Nuno Melo, que Constâncio verberou no candidato pendura (posto à boleia do mediatismo do caso) – sobra ainda esse rocambolesco episódio que opôs o Vieira do Benfica ao Salvador do Braga, a propósito da já consumada transferência (???) do Jesus treinador.

Não me interessa aqui analisar tanto os contornos do ‘negócio’, tão pouco avaliar as implicações contratuais do mesmo. Num mundo (o da bola, claro) em que os contratos celebrados pouco representam, não foram certamente os pruridos legais ou quaisquer escrúpulos morais, os entraves ao ‘negócio’. Mesmo que, por saudável princípio de urbanidade, os contratos sejam para cumprir, o finca-pé do Salvador tem explicações outras para além do negócio em si ou da defesa ética dessa elementar regra civilizacional: tão ostensiva demonstração de força fera – com carranca franzida a preceito – visa habilitá-lo ao exame da ‘enxofrada’ tribo (por via do enxofre do dragão, claro), para aferição da sua condição de herdeiro convicto, empenhado e arreganhado.

Interessa-me mais, antes, destacar essoutro facto comezinho que é o deste episódio revelar a forma como já está a ser preparada a sucessão do pícaro. E, no balanço, recordar outros enredos bem mais insidiosos, evocar aqui outros ‘futebóis’, esses sim, decisivos para a nossa vida colectiva.

É que – à parte os meandros camorreanos dos negócios do ‘pontapé na bola’, mas por via deles – não é possível dissociá-lo desse malogrado processo que podia ter mudado este tristonho país de ancestrais medos e agourentos presságios, dessa regionalização que acabou presa (admito que a contragosto) do ‘papão’ do Norte – ‘papa’ para uns, ‘vice-rei’ para outros – sorvida no agitar do espantalho troglodita e na furibunda truculência do ‘mata-mouros’. Mesmo que outros (e muitos foram) tenham também contraído grossas responsabilidades nesse já longínquo ano de 1998, um dos motivos da derrota referendária desse estruturante projecto esteve no medo de que se multiplicasse pelo país o exacerbado exemplo de um incendiário defensor regionalista – baseado, vejam bem a ironia, na bizarra aliança entre um Jorge (cristão, com direito a incenso papal e tudo) e um dragão (inflamado pelo enxofre danado)!

Quando parecia prestes a encerrar-se um ciclo (pela lei natural da vida), eis que se perfila já, no ovo, mas sob a forma de liturgia de vésperas, empenhado em demonstrar às hostes arregimentadas a ferocidade requerida ao cabal desempenho do cargo, um seu animoso sucessor. Teremos Pinto? Desta feita, um Salvador? Com o Jesus no caminho da Luz...

Mas que trapalhada!

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