domingo, 7 de junho de 2009

“É tarde demais para ser pessimista”

À hora a que a maioria das televisões acompanhava os derradeiros momentos desta ‘campanha triste’, a RTP2 transmitia, sob a forma de documentário, mais um sério aviso sobre ‘este’ desenvolvimento que está a consumir o planeta. Aos argumentos cruzados a propósito do ‘caso BPN’ (roubalheira dos ex-PSDs, de um lado, responsabilidades do ‘BP’, do outro – o CDS a impor a sua agenda mediática às prioridades das europeias em tempo de crise!), a “2”, através de um bem documentado e fundamentado ‘Home – o Mundo é a nossa casa’, alertava para o possível esgotamento dos recursos naturais até ao final do século. Da água, origem da vida, à agricultura, base da sobrevivência humana.

Sem grandes novidades – a não ser, talvez, o tom cada vez mais negro com que estes avisos vão sendo emitidos – durante hora e meia foram apresentados e actualizados os principais dados que os cientistas vão coligindo sobre o rápido processo de carbonização da atmosfera e dos seus principais efeitos no frágil equilíbrio ambiental. Como por exemplo:
- Que tendo a espessura do gelo da calota do Árctico reduzido cerca de 40% nos últimos 40 anos, se prevê o seu desaparecimento até 2030 (alguns avisam que tal pode mesmo acontecer já em 2015!), desaparecendo com ele o ‘efeito de albedo’ (uma espécie de ar condicionado da Terra) e influenciando a ‘circulação termohalina’ das correntes marítimas, o que alteraria todo o clima terrestre;
- Que o acelerado processo de degelo dos glaciares da Gronelândia, que representam 20% de toda a água doce do planeta, caso não seja travado, pode traduzir-se num aumento de 7 metros no nível dos mares, inundando vastas zonas costeiras fortemente habitadas, obrigando à deslocação de centenas de milhões de pessoas!
- Que, com o aquecimento global e o degelo, o metano retido nos solos gelados da Sibéria (o ‘permafrost’) pode libertar-se, o que virá a resultar numa catástrofe de dimensões inimagináveis;
- Ou que 20% da Humanidade consome 80% de todos os recursos da Terra!

Resta-nos então apenas concluir, com o documentário, que “é tarde demais para ser pessimista”! Mas isso obriga a muito mais mudanças do que as pessoas parecem dispostas a fazer. Mudanças políticas de fundo, é certo, mas sobretudo e naturalmente, mudança dos hábitos quotidianos mais simples na vida de cada uma delas.

Que não haja ilusões. Isso só se tornará viável se as pessoas forem a tal obrigadas. Pela força das circunstâncias – a pior maneira – ou pela força das normas – a ‘pérfida’ maneira. Primeiro, porque ninguém estará disposto a acatar normas que interfiram com o seu actual nível de conforto; depois, porque nenhum político das actuais democracias – o regime dominante daqueles 20% mais predadores de recursos – aceitaria afrontar os seus eleitores nesse seu conforto básico. O que implicaria um enorme volte-face nas actuais condições sócio-demográficas do denominado ‘mundo ocidental’. Incluindo também nos próprios comportamentos políticos da sua classe dirigente!

A convulsão gerada na sequência da crise actual (ou crises, importa aqui recordar que a primeira foi a energética, com o disparo dos preços do petróleo, prenunciando o rápido esgotamento dos recursos!) é bem mais do que uma simples ‘crise de crescimento’, como tem vindo a ser tratada. Não sei se é já o estertor do sistema, duvido. Mas sei que só poderá ser ultrapassada se as mudanças forem bem mais radicais e drásticas que as até agora adoptadas (ou as que se aprestam a sê-lo). Sob pena de as circunstâncias virem a impor a ‘sua’ solução. A pior, seguramente!

Talvez a solução, afinal, esteja na simplicidade das coisas. Talvez a solução da energia, por exemplo, esteja na fotossíntese. Tal como se refere no documentário, ‘basta imitar as plantas e procurar captar a energia do sol’. Se tudo fosse assim tão simples...

1 comentário:

José M. Sousa disse...

Excelente resumo. Salientava também as seguintes palavras de ordem de "Home": Moderação e Partilha.

É verdade que será muito difícil aos governos proporem o que é exigido aos seus eleitores. Mas este também é um problema de (des)informação e conhecimento. A grande maioria das pessoas ainda não assimilou a verdadeira dimensão do problema. E a exposição deste não pode ser meramente técnica. Tem que apelar à ética, à responsabilidade para com as gerações mais novas, de uma forma que, sem ser populista e lamecha, vá ao coração das pessoas, as envolva emocionalmente neste problema. Acho que só assim se poderá avançar.