domingo, 28 de junho de 2009

Das trapalhadas do Sócrates às trapalhices da Manuela, passando pelas tropelias do Cavaco

O último episódio que opôs Sócrates à Manuela, o fracassado negócio PT-Prisa, encerra todo um tratado de economia política (ou será de política, mesmo?) do modo como as matilhas assoladas do mais desenfreado liberalismo, acantonado sobretudo no PSD, encaram a economia e pretendem afrontar a política. Para encurtar razões e outras explicações, confesso-me inteiramente de acordo com a argumentação que o Carlos Santos tem vindo a expor, munido de uma infinita paciência e muita sabedoria, no seu ‘Valor das ideias’ – de leitura diária obrigatória, pela competência que revela e pelo rigor que coloca nas suas análises (mesmo quando, aqui ou ali, não se concorda com tudo o que ele escreve).

O episódio é até aproveitado para, no rescaldo do seu conhecido epílogo, se tirarem as conclusões do costume: é necessário deixar o mercado funcionar, portanto, o Estado deve livrar-se quanto antes da ‘golden-share’, essa reminiscência malévola de sociedades atrasadas... Mas, como bem refere Carlos Santos, a detenção da golden share “não permitia ao governo obrigar a PT a fazer o negócio (como a vozearia da matilha exigia na véspera), mas permitia-lhe impedir que ele se fizesse” (como acabou por acontecer, em mais uma demonstração do desnorte em que se encontra o Sócrates). O ataque a esta prerrogativa do Estado, denota sobretudo, que os seus detractores parecem mais dispostos a ensimesmados exercícios teóricos do que em enfrentar a crise actual (que desvalorizam), ao retomarem, ainda com maior arrogância, o formulário de receitas – acompanhado das habituais provocações – que a ela conduziram.

Aliás, no frenesim pós-eleitoral a que o PSD se entregou, na ânsia de apear o seu parceiro de alterne no poder do Estado, têm-se sucedido episódios exemplares do estilo governamental que a Manuela pretende impor se lhe concederem essa possibilidade. Durante um jantar com o Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República, prometeu que, se vencer as eleições legislativas, vai «romper com todas as soluções adoptadas pelo PS em termos de política económica e social» e libertar a sociedade do Estado. Ao que consta, o álcool não foi o responsável por tais declarações, pois elas foram proferidas antes do alambazado repasto dos deputados da nação!

Esta tirada merecia, só por si, tratamento específico, com título a condizer – ‘A desonestidade ao poder’ (?) – pois ao mesmo tempo que pisca um olho a todos os descontentes com a governação de Sócrates (há muito por onde escavar nas corporações ofendidas com as suas mal amanhadas e pífias políticas públicas!), o outro não dá sinais de coisa nenhuma – a menos que esta frase encerre todo o seu programa político!

E tudo isto, vejam bem, com o beneplácito – que digo eu? com a expressa conivência e participação! – do supremo magistrado da nação, do presidente que devia ser de todos os portugueses, do exemplo de impoluta probidade (salpicado, é certo, por manchas indeléveis de amigos e protegidos), do esfíngico Cavaco, desta feita transformado – alguém já o disse – em inesperado porta-voz do PSD! Que clama por transparência e ética nos negócios – serôdio remoque ao seu amigo e ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro, ou empurrão descarado à sua amiga e presidente do PSD Manuela FL?

Também aqui os resultados eleitorais tiveram o mérito de tornar o PR mais ousado para intervir de forma discricionária na política partidária, desde que isso sirva os propósitos de um homem que, tido por rigoroso e sério, mais fica a dever à obstinação casmurra e ao calculismo político. Como forma de compensação à sua falta de cultura (a todos os níveis, Marcelo ‘dixit’) e à ausência de um quadro teórico de bases sólidas (para além da vulgaridade ideológica). Consistência testada ainda na tentativa (falhada) de marcar a data das eleições legislativas para o mesmo dia das autárquicas, com o argumento bizarro de que "existem sondagens que mostram que os portugueses preferem eleições no mesmo dia!". Como se sabe, o condicionamento pretendido não surtiu o efeito desejado!

Surge entretanto um novo manifesto de ‘economistas’, em contraponto ao dos ‘28’ do ‘Apelo à reavaliação dos grandes Investimentos Públicos’. A provar, afinal – se tanto fosse necessário – a grande dependência política da economia. Mesmo (ou sobretudo?) da que se apresenta – e reivindica – como pura técnica. Terá este vindo tarde de mais?

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