terça-feira, 23 de junho de 2009

A casa ditosa dos economistas ‘credíveis’

Independentemente do valor que a cada um mereça o conteúdo do documento publicado este fim de semana, da autoria de 28 economistas, fazendo “Apelo à reavaliação dos grandes Investimentos Públicos”, não é possível ignorar as personalidades que o constituem e, sobre elas – o seu enquadramento ideológico e, portanto, as suas motivações para além das declarações – emitir uma opinião. Aparentemente provenientes ‘dos mais diversos quadrantes’ (Público, de sábado passado), surgem aqui unidos no propósito comum da defesa do ‘interesse nacional’ que, na sua perspectiva, ‘impõe uma reavaliação profunda das prioridades de investimento público’!

Trata-se de economistas que, no seu conjunto, se apresenta como:

- Um grupo de notáveis tecnocratas: gestores, académicos, ex-políticos responsáveis pela, por eles, tão verberada situação económica do país: por incompetência funcional nos respectivos desempenhos ou demérito das políticas que agora insistem em defender. Encaram a economia como se ela estivesse fora (e acima) da política (mesmo os que, eventualmente, afirmem o contrário, procedem como se assim fosse), aceitando o actual modelo de organização social (não apenas a económica, portanto) centrado no mercado (com nuances, é certo), sem contestação crítica substancial, como um dado inevitável.

- Tidos por economistas credíveis: em ‘economês’ significa total subordinação à ‘Teoria Económica de Mercado’ (objecto de muitos eufemismos), nas suas diferentes versões e escolas – da neo-clássica e mais liberais, às mais keinesianas e interventivas – o que, só por si, atesta bem da sua objectividade, cientificidade e rigor. Esquecem-se que a teoria económica é determinada pela economia política, a única, aliás, que permite alguma objectividade científica, pois estabelece desde logo os pressupostos – e os limites – em que se situa.

- Provenientes dos mais diversos quadrantes (políticos, presume-se): só os que se enquadrem nas definições das características anteriores, o que implica aí caberem apenas os adeptos de uma teoria económica dominada pela referida economia política (e a respectiva teoria económica) centrada no mercado (nas suas diversas versões), ou seja, com exclusão, obviamente, dos não credíveis e de pendor político (não tecnocrático).

Nos ‘28’ não constam, pois, economistas ‘desqualificados’ (por oposição a ‘credíveis’) e ‘políticos’ (por oposição a ‘tecnocratas’) – para além dos que eventualmente hajam declinado o convite para o subscrever, por receio de represálias. ‘Desqualificados’ porque, dizem, o modelo que propugnam ou foi ‘enterrado’ pela História (o ‘modelo de planificação central’, de inspiração soviética, que soçobrou estrondosamente com a queda do ‘muro de Berlim’), ou não existe (ausência de alternativa – lá está – credível ao ‘modelo de mercado’!).

Não é este o momento, nem sequer aqui o melhor espaço, para se entrar na análise ao conteúdo do documento – aliás, de valor substantivo bem reduzido, que os seus subscritores pretendem valorizar à conta do peso social detido pelo conjunto de personalidades, inserido numa corrente de opinião que tem tido no PR (e por extensão, no PSD) o seu principal impulsionador. Muito menos o de se contribuir para a formulação desse modelo alternativo – que é possível, já por aqui abordei esta questão noutros comentários. Refira-se apenas que a lógica política que o determina, apontando à suspensão do actual plano de investimentos públicos sem apresentarem qualquer alternativa – visa apenas e essencialmente garantir melhores condições de rentabilidade futura às empresas, através do mínimo de constrangimentos de natureza orçamental, fiscal e social ao funcionamento da sua actividade, seguramente com bem menores preocupações em proporcionarem um acesso generalizado aos benefícios que potenciem o exercício de uma cidadania mais completa a todos os portugueses (muito para além, pois, das obras que pretendem sejam suspensas).

Mas se algum mérito lhe pode ser assacado é o de reforçar a chamada de atenção para alguns aspectos que, agora, no rescaldo da ‘debacle' do PS nas ‘europeias’, melhores condições encontram para ser aprofundados. Do meu ponto de vista, de leigo (interessado) na matéria, sobretudo a insistência na ‘prioridade ao transporte ferroviário tradicional’, e o maior rigor na análise das ‘conexões ferroviárias’ do futuro aeroporto.

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