terça-feira, 19 de maio de 2009

Desregulação geográfica …

Isto de se vir para os USA com um pé em vias de “reparação” tem muito que se lhe diga; e de que maneira …
Logo no Domingo, numa viagem a Martha´s Vineyard, ao descer do “artilhado” Jeep da Elisabeth, a filha do meu Amigo Manuel, comecei a “maltratá-lo”; o que, ainda assim, não foi nada que não se resolvesse – ou pelo menos disfarçasse - com a prestimosa ajuda do analgésico e sempre reconfortante gelo …
E assim foi acontecendo, todos os dias, quer em Boston, seja em Nova York : à noite, depois das caminhadas do dia, o gelo ou o pé num balde de água fria lá me (em)prestava o ânimo necessário e suficiente para o périplo do dia seguinte …
Mas, o mais hilariante desta minha estada nos USA, ocorreu na Abercrombie – a loja preferida da minha filha – onde, normalmente e (in)voluntariamente, apanho grandes “secas”.
E, ainda bem que, no interior da Loja, instalaram uns reconfortantes maples onde as “vítimas” – como eu – podem esperar sentadas; curioso – ou não (?) - é que esta “zona de estar” é essencialmente frequentada por homens que, ao som de uma “coisa” que é debitada por potentes altifalantes, vão desesperando, enquanto num frenesim inebriante, pelos três andares da Loja, os nossos familiares vão mexendo, remexendo, experimentando e voltando a experimentar “trapos” …
Eis, então, que chega mais uma “vítima”que se senta ao meu lado, enquanto a mulher e a filha partem para o “desvario” …
Num gesto de muita cumplicidade, lá nos apresentamos e aproveitamos para desdizer da nossa sorte por tamanho “castigo”; ele é o Edward, natural e residente em Filadélfia, na Pensilvânia e que está de visita a N.Y.
Às tantas, o Edward pergunta-me se sei dos resultados do Basebol. Respondo-lhe que não. Que sendo uma pessoa ligada ao desporto, não ligo ao Basebol, dado que não é uma modalidade que se pratique em Portugal, mas que, nos Açores, na minha adolescência e por influência dos emigrantes, jogava ao “Jogo do Ramo” ( com regras muito parecidas às do Basebol ).
Entretanto, o Edward pergunta-me :
Portugal, isso fica no norte de África ?
Espantado e incrédulo, não queria acreditar;
mais: não sabia se o “camone” estaria e/ou não a gozar …
Assim, em caso de dúvida, porque tinha muitas dúvidas quanto à pergunta, lá optei por responder recorrendo-me, para o efeito, de algo que havia lido na viagem, escrito pelo Miguel Vale de Almeida para a Revista da TAP, que citei de cor :
- Portugal está na Europa, mas não está na Europa;
- Portugal está no Norte de África, mas não está no Norte de África;
- Portugal está na América Latina, mas não é América Latina;
- Portugal está num País Latino, mas não é um País Latino;
- Portugal está no Sul, mas não é do Sul:
- Portugal não está no Mediterrâneo, mas está no Mediterrâneo
Ora, enquanto o “gringo” ficava de tal forma baralhado com a minha estapafúrdia(?) explicação, procurei tranquilizá-lo , acrescentando :
- Edward, Portugal é um País sui generis; tão, tão sui generis que só visitando-o se pode conhecê-lo …
Dito isto, eis que, final e felizmente, a minha filha havia terminado as compras.
Feitas as despedidas, lá muito provavelmente terá ficado o Edward às voltas com a sua (dele) desregulação geográfica …
Se assim foi; bem feito !..

3 comentários:

Anónimo disse...

Do que é que estavas à espera ?
Estes "camomes", salvo algumas excepções, são uma cambada de imbecis que mal conhecem a sua própria história.
Porque já aconteceu comigo, não me espanta nada que este "gringo" pensasse que Portugal ficasse no Norte de África.
É tudo uma questão de KOLTURA !!!

José M. Sousa disse...

Bom, também não seria de admirar se ficasse no Norte de África!

Seja como fôr, foi uma história cómica!

Anónimo disse...

Imagino a dificuldade de ter de andar pelo estrangeiro com um pé ‘entrapado’ (ou limitado), a que se junta a frustração de não se poder ir com o à vontade desejado para onde se quiser, não obstante todas as condições proporcionadas pelos amigos aí residentes. Enfim, o tratamento diário dos ‘pés de molho’ parece estar a produzir o seu efeito, evitando estragos maiores, um pouco à laia do ‘spray’ milagroso dos futebolistas, mas nada de fiar.
Quanto ao ‘edificante’ episódio relatado, não é de admirar no país do Bush. Não foi este que não sabia onde ficava Madrid (ou que falou do presidente da Espanha, já não preciso a gafe, mas era deste género). Ilustrativo da importância que ainda uma boa parte dos indígenas dessa parte do Mundo atribui aos ‘outros’, aos que não são americanos (e, quando muito, os aparentados, ingleses e poucos mais). Ou sintomático do apreço que nutrem pelas regras de convivência, depois como é que eles podiam impor a sua vontade ao resto do mundo? Portanto, desregulação é mesmo a palavra de ordem do Far-West, em todos os domínios, até na geografia (bem apanhada, essa).
Entendamo-nos, Bush não ganhou dois mandatos sucessivos a partir do nada!