sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A génese da crise, segundo alguns neoliberais

Têm-se multiplicado, como era de prever, as explicação dos neoliberais para o eclodir da crise actual – que teimam em reduzir à financeira, mas que vai muito para além desta, como já é bem perceptível – na tentativa de sacudirem do capote as suas mais que óbvias responsabilidades. Uma delas, talvez a mais recente, junta, de um lado (na Sic/N) Pedro Ferraz da Costa, o ex-patrão dos patrões, a Eduardo Catroga, o ex-ministro de Cavaco (que já antes, em entrevista ao DN, havia tentado proeza idêntica, num ‘embrulho’ histórico sobre as crises anteriores), no denodado e concertado esforço de investigação pela ‘descoberta’ da génese (é mesmo assim que este último lhe chama) da crise financeira actual!

Apuraram estes dois briosos paladinos da verdade histórica que a explicação remonta, pasmem, a 1999 (só?), quando – e citam um artigo do New York Times de então – a Administração Clinton, na tentativa de democratizar a aquisição de habitação, pressionou o Freddi Mac e o Fannie Mae a concederem crédito às populaçôes hispânica e negra para essa finalidade, daí resultando o já tristemente famoso ‘sub-prime’, o malfadado vírus da crise actual (!).

Caem, assim, por terra as explicações de tipo moralista em que até aqui afanosamente se refugiavam os liberais menos informados (por menos dados a investigações) para não terem que admitir máculas insanáveis no mercado, quando afirmavam – constata-se agora que apressadamente – que a causa deste descalabro tinha a ver com a ganância, a fraude e até a corrupção de alguns gestores financeiros pouco escrupulosos.

Nada disso. A origem da crise, afinal, esteve, mais uma vez, no Estado, a causa última de todas as falhas, definitivamente a explicação suprema para todas as crises! Mesmo quando esse Estado está declaradamente ao serviço e sob dependência do mercado – como era sem sombra de dúvida então o caso – ou quando a ele se recorre em desespero de causa na esperança de se remediar o mal feito e evitar-se o pior – como é de forma ostensiva agora o caso.

As piruetas e malabarismos a que se sujeitam os atarantados neoliberais seriam cómicas não fora a situação ser dramática. Esperemos, a bem da maioria que, como sempre, mais irá sofrer com ela, que a não transformem numa tragicomédia, pois já basta o que aconteceu – e continua a acontecer!

Decididamente estas luminárias, inebriados pela fé no poder mágico (auto-regulador) do mercado, demoram a acordar para a realidade. E quando isso acontecer (mais cedo ou mais tarde vai mesmo acontecer), só esperamos que o acordar deles não coincida com eventuais pesadelos nossos.

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