domingo, 28 de setembro de 2008

O debate e a realidade

Primeiro o debate estava programado, havia ficado aprazado para 26 de Setembro, mas a pretexto da crise – financeira, dizem eles – ou melhor, da necessidade de se encontrar uma solução para a mesma, com dificuldades de última hora, levou um dos candidatos a pedir o seu adiamento. O outro recusou, precisamente com o argumento de que agora, em plena crise, é que ele mais se justificava.

O debate acabou mesmo por acontecer, no final os analistas apontavam para um empate técnico, o que significa que nenhum dos oponentes conseguiu sobressair, ultrapassar as expectativas criadas em torno da sua prestação, ou apresentar-se suficientemente distante do outro pela excelência das propostas apresentadas. Pelo que me foi dado perceber do que ouvi (directamente dos dois envolvidos e dos posteriores comentários dos analistas) estiveram bem um para o outro!

O que significa também que não há que ter grandes ilusões sobre o desfecho destas eleições americanas. É certo que não é totalmente indiferente ganhar qualquer um deles. Uma eventual vitória de Obama poderá vir a representar uma mudança, mais ou menos pronunciada – o futuro se encarregará de esclarecer a sua profundidade – na inclinação actual da política norte-americana, que o mesmo é dizer, mundial. Mas, no essencial, ambos estão de acordo – sobretudo após a eclosão da crise, para a qual ambos respondem praticamente da mesma maneira (diferenças de ritmo ou de pormenores não alteram a natureza da resposta). Acrescentaria mesmo que o essencial, expectável nestas eleições, já foi conseguido: afastar Bush e os fundamentalistas que governaram a América – e o Mundo – nestes últimos 8 anos! O que de forma alguma é de somenos importância.

É que o essencial, é bom ter isso presente, acontece fora destes debates – por mais interessantes que o possam ser! É a realidade da crise – chamam-lhe financeira, eu digo global – que irá acabar por impor-se aos argumentos esgrimidos. É a virulência de um sistema em decomposição – bem expressa na miséria que atinge mais de 80% (!!!) da Humanidade e no persistente aumento das desigualdades, na contínua degradação do ambiente e na lenta agonia da Terra,...! – que ameaça arrastar-nos, a todos, para uma situação que dificilmente cabe na civilizada ‘conversa’ dos dois candidatos à chefia do Império. A que ambos não sabem dar resposta, porque ambos se encontram assumidamente comprometidos com os princípios e os valores que determinaram essas realidades – os mesmos princípios e valores, afinal, que estiveram na origem desta crise.

Mas, como sempre e em última análise, será a realidade, mais que qualquer programa, campanha ou debate, a ditar o futuro dos dois candidatos – e da crise também!