terça-feira, 5 de agosto de 2008

Reivindicações sindicais, exigências políticas

Pareceu-me oportuno trazer aqui, agora, ‘Algumas citações e outras considerações’ (repartido por três textos), a propósito dos constantes anúncios de falências e despedimentos colectivos, num corrupio que parece não ter fim nem sentido, pois a dominante actual das nossas sociedades é a instabilidade crescente do emprego. Pretendeu-se, assim, alargar a discussão sobre o «trabalho» para além do que é comum tratar-se, sobretudo naqueles aspectos que mais podem relacionar-se com a actual crise dita de ‘ajustamentos estruturais’ (que, é bom lembrar, começou ainda nos anos 90 e tem vindo a aprofundar-se), na medida em que ela possa traduzir os efeitos da revolução tecnológica:
– a redução do tempo de trabalho por ela proporcionada, a par de incríveis aumentos na produtividade e na riqueza – ‘ganhos’ exclusivamente apropriados pelo capital;
– a consequente transformação (extinção?) em curso do trabalho assalariado (o emprego), em resultado dessa apropriação – processo lento, dramático, mas persistente e inevitável;
– a necessidade, portanto, de, conscientes destas movimentações estratégicas, se proceder, também aqui, ao reforço das lutas, sindicais e sobretudo políticas, por uma melhor redistribuição dos benefícios da tecnologia e do tempo de trabalho disponível – reverso de uma outra exigência cada vez mais sentida de se dar primazia à distribuição da riqueza sobre o crescimento económico (com as devidas adaptações, sobretudo geográficas, tema que já por aqui também foi focado).


Apesar de tudo isto poder parecer demasiado longínquo, abstracto, porventura utópico, gerador até de equívocos vários, o certo é que os seus efeitos fazem-se já sentir no imediato: tanto na perspectiva dos governos como dos sindicatos, a criação de empregos (ou a redução do desemprego) depende apenas do maior crescimento económico. E nas condições actuais de globalização assim parece estabelecido e sem alternativa à vista. Contudo, a meu ver, essa é a pior solução, podendo traduzir-se em resultados imediatos, é certo, mas efémeros e sobretudo de efeitos nefastos a longo prazo, pois ao insistir na lógica dominante – a da máxima valorização do capital – o saldo apresenta-se catastrófico para o conjunto da sociedade: maior benefício para o capital à custa de mais intensa exploração do trabalho e de um esforço acrescido sobre os recursos limitados do planeta (com todas as nefastas consequências ambientais conhecidas).

Para além das reivindicações sindicais por um Trabalho Digno (na acepção da OIT: direitos no trabalho, emprego, protecção social e diálogo social) e em seu reforço, a inadiável renovação da esquerda deve passar, penso, pela exigência política de um novo paradigma social – composto por muitas ‘mudanças’ – aqui baseado sobretudo na redistribuição dos benefícios da tecnologia e do tempo de trabalho (aliás, até de dentro do próprio sistema se revela a expectativa num novo paradigma de organização social, ainda que confinado no incentivo às actividades independentes como alternativa ao emprego assalariado).
O referido aviso de Viviane Forrester – “o trabalho da máquina tem hoje um tal peso na produção que não pode continuar exclusivamente em mãos privadas” – parece então dar corpo e sentido, hoje, à ‘velha’ tensão histórica entre a exploração do trabalho e a libertação do trabalho.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu caro,
Venha lá isso:fogo à(s) peça(s)...
Já agora, e quanto aos DESTAQUES : é uma "coisa" que ainda não aprendi, e que nos possibilita(rá) colocar, algures, no Blogue e em local de Destaque, todos as postas que - como no caso das Suas - são relevantes.
CBS