sábado, 12 de julho de 2008

‘Tento na língua’? Tento nas atitudes, Sr. 1º Ministro!

Nem eu sei bem porquê, o certo é que já havia desistido de comentar o ‘Debate da Nação’ de ontem, quando, há pouco, quase de raspão, o Vasco Pulido Valente (VPV) desenterrou porventura o pormenor que, no meu subconsciente, mais terá contribuído para esta imprecisa decisão. ‘Tento na língua, sr. Deputado’, esbravejou o 1º Ministro de Portugal para o líder da bancada do BE.

Mas agora que comecei, voltemos então ao princípio. Prometia-se um embate, não um debate, a ansiedade sobrelevava as ideias. Sócrates apresentou-se devidamente afivelado para o confronto, mais crispado ainda do que o costume, brigão e provocador fora de qualquer regra. Defraudando as expectativas, saiu-lhe em sorte não um contendor de igual jaez, mas um dandy da palavra, polido no verbo, esmerado nas metáforas, farto nas ideias (ainda que de reduzido conteúdo), escasso, porém, naquilo que o Sócrates mais aprecia: a carranca do animal feroz. Frustrado, deu vazão à ira por outras bandas.

À direita, Portas, habitual bombo da festa nestas andanças, não escapou a lição preparada sobre a famosa proposta de redução dos impostos saída das jornadas parlamentares do CDS nos Açores. Apanhado a jeito à primeira, Portas reagiu bem à segunda, num longo mas bem elaborado (e humorado!) apanhado de contradições de Sócrates e o seu Governo.
À esquerda, ensaiou primeiro com o Jerónimo e perdeu completamente as estribeiras com o Louçã, quando este, a propósito da taxa baptizada de ‘Robin dos Bosques’, fez questão de repor a verdade da história original, aludindo a uma duvidosa repartição dos rendimentos especulativos do petróleo (sem os classificar, note-se), entre Estado e petrolíferas. Sócrates não desperdiçou a deixa, que interpretou como um insulto (percebeu-se, pelo longo discurso 'moralista', que há muito esta atitude fora estudada!). Macaqueando o monárquico ‘porque no te calles’ e de dedo em riste, atirou furibundo sobre o deputado do Bloco um despropositado – fez questão de mo relembrar o VPV – ‘tento na língua’. O agora comentador das sextas na TVI acrescentou ainda ser inconcebível o desaforo, feito nestes modos, a um deputado da Nação!

E eu, seja pelo destrambelho do gesto, seja pela resposta tíbia do Louçã (quase adoptando o preceito evangélico de, perante a ofensa, oferecer a outra face), decidi arrumar o assunto. Acordei, confesso, com o comentário do VPV.


Percebo a necessidade de contenção do Louçã, mas não escondo o incómodo causado pela ausência de uma resposta à letra à má educação, aos tiques de autoritarismo e sobretudo à falta de respeito democrático que revela este gesto do 1º Ministro de Portugal. Tal como já acontecera com Chavez, Louçã acabava de perder a oportunidade de ‘meter o poder na ordem’, de afirmar de forma mais peremptória – precisamente no sítio em que mais importa enfatizá-lo – o princípio republicano da igualdade (de tratamento, desde logo)! Tal como Juan Carlos, Sócrates perdia a noção do lugar: a linguagem no Parlamento pesa muito, bem mais que quaisquer ditos, disparates o sejam, numa roda de amigos!

E, já agora, quem tem estado a alimentar os rendimentos dos especuladores do petróleo? Que nome se dá, então, a este (pelo menos) tipo de especulação?

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu caro,
Pela boca vai - mais cedo que tarde - morrer o peixe ou, então e se preferir, o "menino de ouro" vai perceber - mais cedo que tarde - que as apostas das suas (dele) assessorias poderão estar, afinal, a apostar numa estratégia de "representação" errada.
Vão ocorrrer, naturalmente, novos e decisivos "embates" e o menino de ouro pode(rá) estar a esgotar, penso eu, os "cartuchos" todos e, então e depois, rir-se-á melhor quem se rir no fim.
Assim, pelo menos, espero.