terça-feira, 15 de julho de 2008

De crise em crise...

Os reguladores dos mercados financeiros dos EUA estiveram reunidos ontem para analisar a criação de um megaempréstimo para atender à situação de insuficiência de liquidez da Fannie Mae e da Freddie Mac e evitar uma nova crise no mercado financeiro.” (Financial Times)
As duas empresas corriam o risco de falência, por falta de liquidez para fazer face aos seus compromissos, à semelhança do que aconteceu com a Bear Sterns, em Março. As duas empresas possuem ou garantem (...) mais de 40 por cento do crédito imobiliário dos Estados Unidos”. (RTP)


A crise do ‘sub-prime’ nos EUA, que alguns dizem ter sido o início das actuais dificuldades por que passa o sistema (escalada do preço do petróleo, explosão dos preços agrícolas e subsequente crise alimentar,...), ainda agora parece estar no começo: o Governo americano prepara-se, mais uma vez, para injectar muitos milhões no sistema, na tentativa de salvar duas das mais importantes empresas financeiras privadas (o New York Times estima esse ‘apoio’ em cerca de 300 Mil Milhões de dólares (vez e meia o PIB português!) e evitar uma derrocada em cadeia que, a acontecer (ou quando acontecer?), terá consequências imprevisíveis – para o País, naturalmente, mas também para o resto do mundo, inevitavelmente. A mesma lógica que o levou a assumir (de outro modo, é certo), na falência também agora registada do Indymar Bank (salvo erro, a 5ª grande instituição a falir este ano nos EUA), todas as responsabilidades financeiras do Banco perante os seus clientes!

A primeira conclusão a tirar parece ser, assim, a de que esta crise está longe de ter atingido o seu auge, ela está para durar, começa mesmo a interiorizar-se a ideia de que ela veio para ficar. Porque se trata, antes de mais, de uma crise estrutural – aos diferentes níveis: tecnológico, económico, político, social, ambiental,... – que está a pôr em causa o nosso próprio modo de vida e pode bem descambar, por isso, numa mais ampla crise sistémica e sobre a qual ninguém se atreve a arriscar prognósticos. Haverá, com certeza, muitas ocasiões de se voltar a estes aspectos no futuro. Interessa-me, por isso, aqui destacar um outro.

É que, independentemente do desfecho que esta crise venha a ter, importa para já salientar as incongruências de um sistema acossado, que não consegue sequer disfarçar a completa falta de alinhamento entre o que faz e o que diz. Mais uma vez (como, aliás, tem acontecido sempre ao longo dos últimos trinta anos de predomínio neoliberal na economia) os governos ultraliberais lançam mão – ao arrepio das suas convicções mais profundas e sempre em socorro dos privados – de medidas intervencionistas puras e duras: para salvarem o sistema e ganharem de novo a confiança dos utentes do sistema financeiro, não se importam de perder toda a credibilidade face às teorias que apregoam.
‘Bem prega Frei Tomás...’

2 comentários:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu Caro,
Ora, e para não variar, mais uma excelente posta, desta feita sobre as contradições do sistema que, agora e ao que parece, já começa a "estrabuchar".
A "bota" já começa,mesmo, a não bater com a "perdigota" ...

José M. Sousa disse...

A propósito,
Bloomberg TV Interview: Worst Financial Crisis Since the Great Depression and Worst U.S. Recession in Decades