quarta-feira, 30 de julho de 2008

Algumas citações e outras considerações - 1

O desperdício do trabalho
No contexto da actual crise económica, é simplesmente dramática a situação de um número crescente de pessoas sem ‘emprego’: de um lado, jovens à procura de trabalho compatível com as suas qualificações e que apenas conseguem, na esmagadora maioria das vezes, ocupações de tarefeiros, a prazo; do outro, trabalhadores ‘em fim de carreira’ (à falta de melhor designação), empurrados para o despedimento, a rescisão contratual ou, na melhor das hipóteses, a reforma antecipada, por, adiantam os seus decisores, excesso de mão-de-obra nas empresas ou inadequação tecnológica às exigências da função. Como quer que seja, o capitalismo parece encurtar cada vez mais as hipóteses de ocupação para quem procura trabalhar, assistindo-se, em contrapartida, à aparente contradição da sobrecarga imposta aos trabalhadores que têm a sorte de ainda manter os seus postos de trabalho.

Ninguém consegue fazer o balanço do que isto significa em desperdício de capacidades e, por conseguinte, de riqueza desaproveitada (para falar nos exactos termos do sistema). O maior desperdício das sociedades capitalistas verifica-se, afinal, no desaproveitamento dos seus ‘recursos humanos’ (mais uma vez a terminologia do sistema), os únicos que, no fim de contas, conseguem valorizar o capital, aumentar-lhe os lucros. Difícil de entender? Nem por isso. Os incríveis aumentos da produtividade conseguidos nos últimos 30 anos à conta dos avanços tecnológicos e da automação, em lugar de contribuírem para a redução do tempo de trabalho por ‘unidade empregada’ (na lógica da História e como havia sido prognosticado), têm sido utilizados pelas empresas apenas para reduzir ‘gastos salariais’ – o que significa sobretudo reduzir postos de trabalho – em benefício exclusivo da... valorização do capital (obviamente, na lógica do capital)!

A principal consequência desta aparente ‘contradição histórica’ foi posta em evidência pela economista, romancista, jornalista e ensaísta Viviane Forrester, há já alguns anos, no seu livro ‘O Horror Económico’ (1996):
Parte do trabalho humano está a morrer e outra parte do trabalho está a ser deslocalizado (até morrer). O problema fundamental não pode ser resolvido com a luta pelo emprego (porque este está a desaparecer), mas com a luta pela distribuição da riqueza criada. As mercadorias físicas e os serviços têm cada vez menos mão de obra incorporada. Isso pode ser comprovado em qualquer fábrica e em qualquer escritório. Os downsizings e as reduções de pessoal não se devem a deslocalizações, mas sim à automatização, à robotização e à informatização. (...)
E corrobora, noutro registo muito relacionado com este, um dos pressupostos – e ao mesmo tempo consequência – desta ‘lógica do capital’:
Hoje há muita coisa que não se produz, não porque não haja tecnologia ou pessoas carenciadas, mas porque não se «vende». Ou seja, porque não há pessoas com poder de compra para as adquirir (embora tenham necessidade delas).

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu caro,
E para não variar, mais uma excelente "postagem", pelo que aguardamos , agora, a(s) outra(s) parte(s)...
CBS