sexta-feira, 6 de junho de 2008

III –Equívocos no percurso da esquerda socialista: do comunismo ao neoliberalismo

O percurso histórico das esquerdas, após a eliminação do equívoco que durante décadas constituiu a tentativa de construção do socialismo a Leste, culmina, enfim, no reconhecimento unânime da relevância, ainda que em abstracto, de todas e cada uma das componentes que constituem o seu ideário, herdado da revolução Francesa – liberdade, igualdade, solidariedade – o que de modo algum se mostra suficiente para impedir, na acção concreta, as profundas clivagens que as atravessam, desde logo pelo maior ou menor peso político atribuído a cada uma dessas componentes.
Não obstante a clarificação ideológica conseguida, o concomitante ascenso do liberalismo introduziu novos desafios sobre as práticas políticas dos partidos de esquerda e socialistas. Num ápice, a ideologia liberal varreu o mundo, tomou conta da economia, da política, da comunicação social, das próprias consciências, tudo de repente submetido ao inevitável dogma do mercado, estabelecido como norma universal e definido como critério absoluto e exclusivo, traduzido na mercantilização de todos os actos da vida. Levando, como é bem sabido, à desregulamentação económica total e à globalização dos seus efeitos (positivos e negativos).
Perante este cenário, os partidos socialistas sentem a sua margem de manobra política reduzida. Partidos de um modo geral comprometidos com o poder e a governação, acabam por se enquadrar na onda liberal e aceitar o império do mercado, embora advogando, aqui ou ali, a intervenção de ‘reguladores’, sem, no entanto, se atreverem a pôr em causa o primado do mesmo, como centro nevrálgico de todo o sistema. Ultrapassados os equívocos que rodearam as fracassadas experiências históricas do comunismo, eis que surge um novo, mais insidioso, a começar pela própria terminologia (daí também ser mais correcto qualificar esta corrente de ‘neo’liberal, introduzindo-lhe assim um elemento distintivo das restantes correntes liberais, nomeadamente da área política).
Ao ‘equívoco do comunismo de Leste’, sucede agora o ‘equívoco liberal’. De tal modo que as políticas socialistas pouco ou nada diferem das que os partidos da direita liberal defendem e aplicam, contribuindo para gerar nos cidadãos e na opinião pública em geral, confusão e crescente alheamento político.
No plano estritamente económico, o que distingue afinal Sócrates de Manuela Ferreira Leite? Qual deles é mais liberal?
(...)

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