sábado, 17 de maio de 2008

Qual o prisma para ‘Olhar o mundo’?

Gesto quase mecânico, ligo o televisor, caio no meio do programa ‘Olhar o mundo’. Para quem não o saiba, trata-se de um programa que aborda temas internacionais, da actualidade semanal, socorrendo-se normalmente do apoio de um analista que é apresentado e se pretende especialista na área em análise. Coordenado e dirigido pela jornalista da RTP Márcia Rodrigues, exemplo acabado do mais enfeudado e rastejante seguidismo ao pensamento único liberal, a garantia de objectividade e isenção no tratamento dos temas, sejam eles quais forem, encontra-se desde logo seriamente comprometida. Sob a capa de uma aparente objectividade que a profusa quantidade de informação utilizada pretende tornar consistente e credível, os dados são trabalhados por forma a ilustrar as teses doutrinárias dos promotores do programa.

Por inconsciente incompetência, porventura (?) arrebatado proselitismo ou até ausência de escrúpulos (na aceitação da tarefa), o certo é que esta senhora, e o ‘seu’ programa, se prestam ao desempenho de uma tarefa que evidencia propósitos bem definidos – alicerçar na opinião pública a ideia de que esta globalização não tem alternativa – a partir de alvos criteriosamente seleccionados e devidamente trabalhados todas as semanas: construção europeia, terrorismo, esquerda,...
Desta feita o tema versava o ascenso das esquerdas na América Latina. A partir, uma vez mais, dessa perigosa ameaça esquerdista que é o Hugo Chavez e da sua presumida pretensão hegemónica de a liderar. Para coadjuvar a coordenadora nos comentários a propósito, e tendo como peça jornalística excertos de uma entrevista concedida por Chavez a Mário Soares (desconheço se já divulgada na íntegra), nada melhor, pois, que um especialista na matéria. Quem? Jaime Nogueira Pinto, nem mais, o assumido salazarento defensor de Salazar naquele bafiento e originalíssimo programa das celebridades nacionais.

Não admira, pois, que os epítetos mais utilizados fossem os ‘propósitos hegemónicos’ (de Chavez, claro), populismo, demagogia,... Exemplo acabado, apesar do matiz nacionalista do convidado, do discurso com que o tal pensamento único liberal pretende descredibilizar esta tentativa (apenas mais uma?) de tornar as decisões sobre esta parte do Globo um pouco menos dependentes dos interesses dos seus poderosos vizinhos do Norte. Com excessos, contradições e também algumas ingenuidades.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Caríssimo,
Com as excepções, muito poucas excepções a confirmar a regra, o jornalismo português não é mau - é péssimo. E esta senhora, Márcia Rodrigues, é como diz - e muito bem - "um exemplo acabado do mais enfeudado e rastejante seguidismo ..."
Quanto ao referido comentador está tudo dito : é um fascista.