quarta-feira, 28 de maio de 2008

‘Prós e Contras’: dois momentos paradigmáticos

2º momento: a resolução das crises segundo Teodora
O outro momento é protagonizado por Teodora Cardoso. Tentativa desajeitada, digo eu, extemporânea mesmo, até pelo facto de surgir de alguém fortemente conotada (no mínimo) com o PS e não de qualquer dos elementos mais liberais presentes na sala (resmas deles, aliás, como de costume).
Quase em jeito de resposta ao autêntico desafio à ortodoxia estabelecida, por parte de Sérgio Ribeiro e com o propósito de mostrar mais o seu distanciamento (por receio de conotação abusiva?) do que por firme convicção, aproveitando falar-se da actual crise mundial (que começou por ser financeira e com origem nos EUA, mas já alastrou aos restantes domínios económicos e regiões do planeta), fez questão de afirmar, voltando-se para o ‘hereje’, que é aqui que se encontra ‘a grande vantagem do sistema capitalista: não podemos imaginar que o sistema capitalista vive sem crises (elas são parte integrante do sistema capitalista), mas é o único que resolve as crises’ (!). E, a concluir, a inevitável e resignada invocação divina: ‘não podemos fazer milagres’.

Ouve-se, volta a ouvir-se e quase não dá para acreditar. A lógica redundante deste raciocínio ensimesmado só encontra paralelo na pretensa ‘lei da oferta e da procura’, em que um processo meramente descritivo é apresentado como axioma científico de valor equiparável às mais consagradas leis da física, da química, da biologia,... (mais ou menos assim: a oferta cria a sua procura, a procura cria a sua própria oferta...; o capitalismo gera crises periódicas, as crises periódicas só são resolvidas pelo capitalismo... Notável!!!)

Mas deixando de lado a análise à tautologia de tais raciocínios (profundamente enraizados e tidos como intocáveis no discurso da ideologia corrente, cuja razoabilidade ninguém se atreve a questionar), atenhamo-nos, apenas, ao conteúdo de tão peremptória e fulminante proposição – o sistema capitalista é o único que resolve as crises – para perguntar: Resolverá mesmo? Com que custos, humanos e materiais? Quais as sequelas históricas? E até quando?
Apetece dizer: vai chegar o dia (é a 'lei da vida') em que o capitalismo já não conseguirá resolver coisa nenhuma, restando apenas saber se, nessa altura, ainda restará alguma coisa. Porventura, bem mais cedo do que muitos esperam, seguramente bem mais tarde do que muitos desejam.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu Caro,
Reparou que, desta feita e candidamente, Fátima Campos Ferreira(FCF) "sentou" três de um lado e dois do outro lado...
À excepção de Sérgio Ribeiro, consegue, por acaso, "sentar" ideológicamente os outros quatro convidados que não do/no mesmo lado da "barricada" ?
Não há ninguém,na produção da RTP, que possa explicar isso mesmo a FCF e ajudá-la nas escolhas dos convidados para p.f. programas ?