segunda-feira, 12 de maio de 2008

O realismo político segundo Almeida Santos

A matriz do socialismo gastou-se, diz. E a da democracia?

Em entrevista ao DN de domingo, 11 de Maio, Almeida Santos (AS) entende que nem o PC nem o BE têm condições para, algum dia, se constituírem como alternância (ou alternativa?) ao PS. Porquê? Porque, para além do mais (que não disse), “são partidos antieuropeus. Eu não vejo que dois partidos que não são favoráveis à Europa possam ter o apoio maioritário do povo português”.
Curiosa concepção da Europa esta, sobretudo vinda de um socialista. É certo que, noutro passo da mesma entrevista, AS afirma que o PS, hoje, em Portugal, não tem condições para ser fiel à sua matriz. “A matriz gastou-se. O 25 de Abril foi há 34 anos”!

Assim já não surpreende que nem lhe tenha passado pela cabeça questionar-se (nem, tão pouco, tenha sido questionado) de que Europa estamos a falar. O pragmatismo que tomou conta da política impõe que, sem restrições nem discussão, se aceite a UE na formulação técnica que se designa por ‘Pacto de Estabilidade e Crescimento’. Que significa essencialmente a completa subordinação política e social ao modelo económico assente no mercado livre, em nome de um condicionamento chamado globalização.

Surpreendente é que logo a seguir AS constate que as liberdades permitidas ou exigidas por este modelo – das simples trocas comerciais à especulação financeira e às deslocalizações – “são uma fábrica de pobres e desempregados. Porquê? Porque não há regras para controlar e organizar a economia mundial”. E este funcionamento sem regras do modelo económico só é possível, acrescenta, porque “não há poder político mundial”. Aliás, para AS o poder político apenas vem em terceiro lugar (!) na escala real dos poderes sociais, a seguir ao económico e ao mediático (!!!), os dois aliados objectivos na dominação social.

O que mais espanta, pois, nesta entrevista, não é a afirmação de que a matriz socialista está gasta. O que realmente espanta é, tão só, reconhecer (ainda que sem o afirmar) e, pior, aceitar como inevitável que, gasta está, também, a própria matriz democrática – que, como se sabe e é unanimemente aceite, estabelece a subordinação do económico ao político, não o contrário.

O realismo na política costuma ser assassino: de pessoas, de princípios, até de carácter. É (também) por isso que os políticos, hoje, têm a sua reputação descredibilizada e a política se encontra às portas da morte!

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu Caro,
Um Amigo meu, lá dos Açores, costuma dizer que o PS já nasceu torto, pelo que as suas actuais derivas já não significam nada uma vez que - segundo ele - não há, desde há muito, socialista no PS.
Ele, de facto, tem toda a razão pois desde a invenção de Mário Soares do "socialismo democrático" a José Sócrates desta "esquerda moderna" há um fio condutor tal seja a liquidação da social democracia ( que, ao fim e ao resto, sempre foi o que verdadeiramente o PS perseguiu)
Assim, não me espanta nada as declarações do "senador" Almeida Santos, considerando todas as malfeitorias ideológicas, sociais, morais e éticas de toda esta gente que tem passado pela Comissões Politicas do PS.
E, salvo honrosas excepções - porque as há - não se vê, ainda assim no PS, garra, honra e vontade para que este "status quo"
se venha, pelo menos no muito curto prazo, a alterar-se.
Eu, no entanto e talvez muito "romanticamente", acredito que o PS muito mais cedo que tarde se irá, mesmo, partir ... para bem da Democracia e do País.