segunda-feira, 19 de maio de 2008

O imprevisível destino das ‘boas notícias’ de Sócrates

Começa a parecer patética e ameaça ser contraproducente a obsessão do 1ª Ministro em demonstrar optimismo mesmo em situações onde o bom senso mais aconselharia menor exposição mediática. Dir-se-á: é o seu papel, compete-lhe incutir ânimo mesmo perante as maiores desgraças, lutar contra o derrotismo, procurar dar a volta por todos os meios. Só que o sentimento das pessoas já deixou de ser apenas de desânimo para se aproximar mais do cansaço, porventura até da revolta, o que é muito mais difícil de controlar, até pelo descrédito a que conduz um discurso que aparenta afastar-se da realidade vivida.

Depois da prosápia com que aquele porta-voz do PS nos brindou ao afirmar ser apenas importante destacar os aspectos positivos do Governo, quando até se esperaria, em data de aniversário, um sério balanço da sua governação (com aspectos positivos, é possível, mas também com os que importaria corrigir para o futuro), nada nos pode surpreender. Talvez este seja mesmo o paradigma de um Governo que teima em apenas apresentar ‘boas notícias’. O episódio mais recente é o da ‘boa notícia’ da queda da taxa de desemprego, quando já é possível antecipar que, perante a revisão em baixa do PIB para 2008 (uma ‘menos boa notícia’, chamemos-lhe então assim), na realidade essa ‘notícia’ já deixou de ser ‘boa’, beneficiando apenas do efeito do desfasamento estatístico, obrigando, porventura, o 1º Ministro a, dentro em breve, ‘corrigir o tiro’.

Ora, foi mesmo esta a expressão utilizada por Campos e Cunha, aquele meteórico ministro das Finanças de Sócrates – mais conhecido pelo extraordinário feito de ter abichado choruda pensão em troca de breve passagem por organismo público (estes liberais não se perdem!), que por qualquer outro feito político digno de, uma que fosse, breve nota de rodapé – que continua a debitar sentenças inócuas, afiveladas por trás de um irritante ar de emproado sapiência.
Perante a referida revisão em baixa do PIB previsto e interrogado a propósito, é justo que se diga (o homem caiu no goto dos pressurosos jornalistas, vá lá saber-se porquê), afirmou então que ‘o Governo corrigiu o tiro. Esperemos que não seja demasiado tarde’. Demasiado tarde para quê? Gostava de perceber o certamente profundo alcance deste tão premonitório quanto avisado recado.
Acabaram-se as ‘boas notícias’? Sócrates que se cuide, então.

Nota: já depois de escrito este comentário, Campos e Cunha deu uma entrevista conjunta ao DN e TSF, que ainda não li e a que não tenho a certeza de poder voltar, por razões de ordem pessoal.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu Caro,
Também li, e com atenção, a entrevista ao DN do ex-ministro do PS, o economista neo-liberal Campos e Cunha.
E estranhei o facto do ex-ministro ignorar que :
- os gestores portugueses auferem, de facto e em média, salários muito mais elevados que os congéneres europeus.
- que Portugal é dos países europeus com maiores desigualdades de níveis salariais.
- estas prebendas salariais não terem nada a ver com a “procura” de gestores ( quantos desta “casta” trabalham no estrangeiro ?) mas, outrossim, pelo facto dos próprios gestores ditarem as suas próprias “regras do jogo”.
E como, pessoalmente, penso que: “só a luta pode vencer o abuso” é que acho muito pertinente esta denûncia, feita com esta oportuna “postagem”.